Com o crescimento contínuo da população mundial, a demanda por recursos naturais para atender às necessidades alimentares, de vestuário e de produção de bens tem aumentado, exacerbando a pressão sobre o meio ambiente.
Mas você já parou para se perguntar se o consumo humano está dentro dos limites da biocapacidade do planeta?
A biocapacidade pode ser definida como a capacidade dos ecossistemas de fornecer material biológico útil e de absorver os resíduos de materiais gerados pela atividade humana.
Na realidade, a procura por recursos naturais supera atualmente a disponibilidade desses recursos no planeta, resultando em consequências graves, como a perda acelerada da biodiversidade. Inclusive, segundo o Relatório Planeta Vivo, a biodiversidade diminuiu 94% entre 1970 e 2022 nos países da América Latina e Caribe.
Diante desse cenário, a pegada ecológica surge como uma ferramenta crucial para avaliar o impacto do consumo humano sobre os recursos naturais. Continue lendo para entender o que é a pegada ecológica, de que maneira o conceito surgiu e como calcular esse índice. Vamos lá?
Infelizmente, muitas vezes é observado que algumas indústrias e consumidores não têm plena consciência do impacto que suas ações — por exemplo, o descarte errado do lixo — podem exercer sobre o equilíbrio ambiental.
Segundo projeções realizadas pela Global Footprint Network (GFN), se continuarmos nessa direção, em 2050 necessitaremos de dois planetas para atender às nossas necessidades de consumo.
Para mensurar tais impactos do nosso consumo diário, surgiu a pegada ecológica. Então, quando falamos sobre o que compõe a pegada ecológica, podemos dizer que ela é um indicador confiável de contabilidade ambiental que quantifica os impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente.
A pegada ecológica estima a quantidade de área bioprodutiva necessária para atender à demanda da humanidade por recursos naturais, incluindo não apenas a produção de recursos de alimentos e bens, mas também a absorção de resíduos e emissões geradas por essas atividades.
Agora que você entende o que é pegada ecológica, podemos avançar para a origem desse conceito. Vamos explorar isso no próximo tópico. Continue acompanhando!
Antes mesmo da formulação do conceito de pegada ecológica, Nicholas Georgescu-Roegen, de origem romena, já havia destacado a significativa manipulação dos recursos naturais causados pelas atividades humanas.
Em seu livro “A Lei da Entropia e o Processo Econômico”, o autor ressaltava a falta de sustentabilidade ambiental provocada pela busca frenética de crescimento econômico, sem levar em consideração a capacidade biológica do planeta Terra.
Contudo, a maior contribuição para o conceito foi realizada em 1993 por William Rees e Mathis Wackernagel, ambos membros da já mencionada Global Footprint Network (GFN), ao definirem a pegada ecológica como um recurso para calcular os impactos das ações humanas sobre os recursos naturais.
Essa ferramenta possibilitaria mensurar todos os impactos das atividades humanas no ecossistema.
Após compreender a origem do conceito, é natural surgirem dúvidas sobre as diferenças entre a pegada ecológica, a pegada de carbono e a pegada hídrica. Por isso, o próximo tópico aborda essas diferenças. Não perca!
Conforme definido, a pegada ecológica é a ferramenta mais conhecida de medição dos impactos da ação humana sobre o meio ambiente. Porém, compondo a família de pegadas, existem também a pegada de carbono e a pegada hídrica para realizar esse cálculo com mais precisão.
A pegada ecológica e a pegada hídrica são dois conceitos diferentes que avaliam diferentes aspectos do impacto ambiental das atividades humanas, embora ambos estejam relacionados à sustentabilidade e à utilização de recursos naturais.
Para entender o conceito de pegada hídrica, podemos pensar no rastro que deixamos após o consumo de água. A água é um recurso extremamente importante na produção de alimentos para a população, fabricação de roupas, higienização, hidratação e mais.
Porém, infelizmente, a crise hídrica já é uma realidade. Segundo pesquisa divulgada pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG/OC), o Brasil já perdeu um Nordeste e meio de água.
Conforme o Instituto Trata Brasil, quase 35 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada. Na pandemia, por exemplo, a população sem acesso a esse serviço ficou em situação muito mais vulnerável frente ao vírus da COVID-19.
Enquanto a pegada ecológica engloba uma gama mais ampla de recursos naturais, a pegada hídrica foca especificamente na utilização da água.
A pegada hídrica é um indicador mais específico que mede o volume total de água doce utilizado direta ou indiretamente por uma atividade, produto ou serviço ao longo de seu ciclo de vida.
Ela é expressa em metros cúbicos de água (m³) e pode ser dividida em três categorias:
água azul (utilizada na produção agrícola e industrial);
água verde (utilizada pelas plantas para a produção de biomassa);
água cinza (volume de água necessário para diluir poluentes).
Ambas as ferramentas são importantes para avaliar o impacto das atividades humanas sobre o meio ambiente e para orientar a gestão sustentável dos recursos naturais.
Apesar de ambas serem ferramentas importantes para medir a pressão sobre os recursos naturais, elas têm diferenças significativas em relação ao que medem e como são calculadas.
Em se tratando de qual o significado da pegada ecológica, ele pode ser definido como um indicador que mede a demanda total da humanidade por recursos naturais biologicamente produtivos.
Ela inclui uma variedade de recursos, como alimentos, madeira, fibras, energia renovável, entre outros, sendo expressa em hectares globais (gha), que representa a quantidade de terra biologicamente produtiva necessária para sustentar um determinado estilo de vida ou nível de consumo.
A pegada de carbono, por outro lado, é uma medida mais específica. Ela quantifica as emissões totais de gases de efeito estufa, principalmente dióxido de carbono (CO₂), associadas a uma determinada atividade, produto ou serviço.
A pegada de carbono é expressa em toneladas de CO₂ equivalente, o que permite comparar diferentes gases de efeito estufa (GEE) com base em seu potencial de aquecimento global.
Ações como o desmatamento, queimadas e queima de combustíveis fósseis contribuem em grande escala para emissão desses gases, que favorecem as mudanças climáticas e o aquecimento global.
Por isso, se tornam tão necessárias ações de reflorestamento, por exemplo, para combater as consequências terríveis da emissão de gás carbônico e contribuir para o desenvolvimento sustentável mundial.
A pegada ecológica quantifica os recursos naturais, biológicos e renováveis utilizados pela humanidade, como grãos e vegetais, carne, peixe, madeira e fibras, energia renovável, entre outros.
Esses recursos são categorizados em áreas como Agricultura, Pastagens, Florestas, Pesca, Área Construída e Energia e Absorção de Dióxido de Carbono (CO₂).
Para calcular a pegada ecológica, os componentes são divididos em subpegadas, que, ao serem somados, revelam o impacto total da pegada ecológica. As subpegadas incluem:
retenção de carbono — representa a quantidade de floresta necessária para absorver o dióxido de carbono que os oceanos não conseguem absorver;
pastagem — corresponde à área necessária para a criação de gado, atendendo a diversas especificidades;
florestal — baseia-se no consumo anual de madeira para a produção de diversos produtos;
pesqueiros — calcula a produção estimada para sustentar a captura de peixes e mariscos de águas doces e marinhas;
áreas de cultivo — representadas pelas áreas de permissão para o cultivo de alimentos destinados a humanos e rações para animais;
áreas construídas — incluem todas as áreas com infraestrutura humana, como transportes, indústrias, reservatórios para geração de energia elétrica e habitações.
Como você pode notar, a pegada ecológica é uma ferramenta extremamente necessária para virar o jogo e evitar a escassez de recursos naturais.
Conforme demonstrado na explicação de como calcular a pegada ecológica, é essencial que as organizações compreendam esse conceito e mensurem o impacto de suas atividades cotidianas no meio ambiente.
Afinal, como mencionado acima, para alcançarmos o desenvolvimento sustentável, é necessário existir um equilíbrio entre a quantidade de recursos naturais disponíveis e a demanda de consumo da sociedade.
Nesse sentido, é imperativo investir em fontes de consumo de energia sustentáveis para construir um planeta mais responsável e seguro.
Por isso, gostaríamos de recomendar um conteúdo completo que o blog EDP produziu sobre o tema, abordando quais são as principais fontes de energia sustentável. Aproveite a leitura!
Diogo Baraban é engenheiro eletricista formado pela Universidade São Judas Tadeu, com MBA em gestão empresarial pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Desenvolveu, em sua carreira, experiência em processos produtivos e em vendas técnicas, tendo atuado nos últimos 13 anos no setor de comercialização de energia. Atualmente é membro da diretoria da EDP Smart, respondendo pela gestão dos negócios de Comercialização de Energia (atacado e varejista) e Mobilidade Elétrica. Também é membro da diretoria da EDP Ventures e conselheiro de 2 empresas investidas pela companhia: 77Sol e Fractal. Diogo Baraban escreve sobre Sustentabilidade e Energias Renováveis.
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